Naquele dia de sábado, 12 de outubro de 1991, na Fazenda Pitanga - Balneário, tudo aconteceu de improviso. Desde a viagem de Salvador para a amada Cachoeira choveram as improvisações. Finalmente , a "galera " aos "trancos e barrancos" chegou no Balneário entre as 09:00 e 10:00 hs.
A "raia miúda" muito mais disposta que a "graúda" , saltitava nas piscinas feito peixes veteranos, tendo na linha de frente a Line Bonitinha, Liv e Lai, e, na retaguarda, entre choramingos e " cara fechada" , Dudinha, Dragão Negro e Lobo Pequeno.
Quando buzinou uma hora da tarde a gurizada reuniu-se: Line Bonitinha e Liv, Dudinha e Lai, Cid e Lise, Alan e Breno, e finalmente Dragão Negro com sua espada flamejante pronta e afiada para matar onze onças pintadas que aparecesse. Lobo Pequeno não se enteressou pela expedição. Preferiu dormitar preguicosamente no calo aconchegante de Tuminha.
Tinho, brandindo nos ares seu estridente grito a "la Tarzan" , anunciou a hora da partida, Sandra arrumou a galera miúda em fila indiana. Era hora de se embrenhar pela Floresta Negra, escalar duas cachoeiras e finalmente alcançar o destino final - A grande Cachoeira do Japonês.
Tudo pronto. Os biriteiros Elimar Recenciador e Duda Mão de Ferro acorreram para o bar e providenciaram guarnecer uma grande caixa de isopor com cervejas geladíssimas. Lú e a falastrona D. Iêda acudiram a fome com dezenas de cachorro-quentes e farofa com galhinha assada.
Tinho na frente puxava a turma numa longa fila pelos caminhos tortuosos , íngremes e perigosos, sempre margeando o Riacho Pitanga.
Os gurís assanhadíssimos observavam tudo com os olhos brilhando de curiosidade e alegria.
Ja no meio do caminho, a expedição deixa a trilha margeante ao Riacho. Agora a única opção era caminhar pelo leito pedregosso e escorregadio do Riacho. Alan foi designado CAPITÃO DOS GURÍS e imediatamente , com ares de autoridade, assumiu o encargo esbravejando ordens e contra-ordens aos seus subordinados. A Bonitinha e Breno rebelava-se aos mandos do Capitão, engarapitando-se por entre as enormes pedras limosas, no constante desafio ao perigo. Lá atrás via-se e ouvia-se lamúrias dos "burros de carga" Elimar e Duda, revezando-se no transporte das cervejas. Na frente o eco dos gritos de Tinho Tarzan, voando sobre o riacho, de pedra a pedra, pendurado em cipós nativos. No meio da fila a fala constante de D. Iêda e os resmungos de Lú na cuidadosa preocupação por Cid e Lise. Gogó, sem largar Dragão Negro, impedia que este completasse seu intento de trucidar duas onças pintadas com sua espada flamejante. Sandra e Ana Lúcia trilhavam na intermediária e com a assessoria direta de Dr. Paul , vocalizavam leis e tratados aos altos brados exigindo normas de conduta para submeter a gurizada. Como no Brasil leis e normas jamais foram cumpridas não é necessário dizer que a gurizada lhes tivesse prestado atenção. O próprio Capitão Alan sentiu que a galera sob seu comando se amotinara.
No fim tudo era alvoroço. Improvisação, alegria e de vez em vez os choramingos de Dragão Negro entre uma queda e outra.
O primeiro grande obstáculo da expedição foi vencido bravamente. A primeira cachoeira foi escalada com sucesso absoluto. Uivos e gritos de vitória gforam ouvidos.
Mais além a segunda cachoeira se apresentou maior , mais bonita e mais perigosa de escalar. O cuidado foi redobrado e com esforço chegou-se ao cimo.
Mais vinte metros e a grande Cachoeira do Japonês apresentou-se aos olhos extasiados dos desbravadores. Lá estava ela, pomposa e altaneira, jogando suas águas brancas e espumadas por reentrãncias e quedas de cinquenta metros de altura. A meta era alcançar a piscina formada por uma grande reentrãncia escavada na rocha na parte supeior da cachoeira..
A escalada foi demorada e cuidadosa, principalmente face aos arroubos de coragem e despreendimento de Liv e Line Bonitinha, Lai, Cid, Capitão Alan e Breno
Ao alcançar a piscina natural ao cimo da cachoeira, os miúdos viraram graúdos e os graúdos transformaram-se em miúdos . Houve verdadeiramente uma festa líquida, cheia de espumas, respingos e fantásticos gritos de alegria.
Eu, particularmente, transportei-me magicamente à minha infãncia e me enxerguei claro e límpido, o menino traquinas aos 10 anos de idade. Naquele momento bateu no meu peito extraordinária saudade dos velhos tempos: Eu , Tinho, Duda, Cacai, Lucas, Xi , Iza e Gogó, verdadeiros Tarzans a flutuar nos sonhos e fantasias de toda criança feliz.
Paulo Lobo
12.10.1991
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
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Dr. Paulo, sua narrativa ficou excelente. Nos lembramos exatamente daquele dia, aquela enorme comitiva para o Japones cheia de alegrias e contentamentos pelas conquistas de trilharmos a mata e chegarmos até a cachoeira. Só faltou relatar um fato importante. Tinho e Ricardinho cairam no riacho quando um cipo arrebentou. Foi um susto passageiro mas como sempre Dragão Negro era só alegria e como é do seu feitio até hoje queria uma repetição da aventura sem se preocupar com o perigo. Até a próxima história, sempre relembrando bons momentos.
ResponderExcluirElimar
Adorei tudo, devo confessar que não lembro de tal empreitada. Muito bom Tio, parabéns pelo blog escrito com muita emoção e verdade. Bjus
ResponderExcluirLais