terça-feira, 1 de novembro de 2011

Ópera da Cachoeira em dó maior

1o  Movimento:

Pai, ja viste esta Cidade assim,
vazia , inerte , desgovernada,
tal ancião sofrido
de lepra dilecerado ?
São os últimos fulgores de luz
que se vislumbram com sóis,
são últimos sopros de vida
que respiram seus heróis....

Pai, ja viste esta Cidade assim
se abraçando com o torpor,
despertando sombrias praças
no auge do temor ?
São adormecidos fantasmas
que agora passeia lá,
são resquícios de sussuros
de sepulcro secular...

Pai, ja viste essa Cidade assim
tal pesadelo cruel,
ja reparaste nas sombras tristes
que escurecem até o céu ?
São as trevas da vergonha
que suas serras encondem em vão
são misérias e os desafetos
que confundem na escuridão...

Pai, ja viste esta Cidade assim,
torturada, só - um deserto horrendo!
Se dantes havia luz,
hoje o sol, sepulta-se morrendo.
São as mágoas transparentes
que dantes jamais se via,
são choros de crianças
que dantes não se ouvia...

Pai, ja viste essa Cidade assim,
quadro de horrenda inspiração,
o povo, o sonho, o abandono,
a fé morta, os homens sem razão ?
São  esperanças que sucumbem
em vendaval de devastação
são gemidos foribundos
que se fazem ouvir em vão...

Pai, ja viste essa Cidade assim,
trôpega em dantesca festa,
sombras de mortos volteiam
em lúgrube orgia, ao som de seresta ?
São os fantasmas errantes
que alí se acamparam,
são os sacerdotes da agonia
que na Cidade se instalaram....
...............

Fim  do 1o Movimento.   Aguardem o 2o .

Paulo Lobo

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