quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Ópera de Cachoeira em Dó Maior

Quarto movimento.

Nas praças, a letargia tumular
de quem ja cedeu a vida...
Ja não há colibrís coloridos
voando na avenida
ladeada de jardins...

Agora, no "Faquir " goteja
o orvalho entristecido...
E os sobrados seculares
empoeirados, envelhecidos
como espéctros sombreiam
os becos esquecidos...

Um rio sonolento e calmo
renitente, moteja sombrio...
Carcaças de antigos saveiros,
negros velhos canoeiros
ainda sonham ás margebs do rio...

É a sombra da desgraça
que por alí desceu...
é o sonho de toda gente
que naquelas margens morreu...
E agora, funesto destino
toda a Cidade enlutou
e a beleza que remanescia
a miséria sepultou...

Quem vê a Cidade assim
vergastada pelo tempo,
sente na pele o arrepio
do frio úmido do vento...
estremece sem esperança,
queda-se em torpor
e na solidão se remança
dominada pelo horror...

Acorda Cidade !  acorda !!
deste sono secular ...
Acorda ! desfaz o frio leito
d'onde foste dormitar...
Ergue-te do sepulcro
prá tí não é insulto
em tal leito se acomadar ?


Paulo Lobo

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