terça-feira, 31 de janeiro de 2012

CRÔNICAS DO DIA A DIA

Naquele dia de sábado, 12 de outubro de 1991,  na Fazenda Pitanga - Balneário, tudo aconteceu de improviso.  Desde a viagem de Salvador para a amada Cachoeira choveram as improvisações.  Finalmente , a "galera "  aos "trancos e barrancos" chegou no Balneário entre as 09:00 e 10:00 hs.

A "raia miúda" muito mais disposta que a "graúda" , saltitava nas piscinas  feito peixes veteranos, tendo na linha de frente  a Line  Bonitinha, Liv e Lai,  e,  na retaguarda, entre choramingos e " cara fechada" ,  Dudinha, Dragão Negro e Lobo Pequeno.

Quando buzinou uma hora da tarde a gurizada reuniu-se:  Line  Bonitinha e Liv, Dudinha e Lai, Cid e Lise, Alan e Breno, e finalmente Dragão Negro com sua espada flamejante pronta e afiada para matar onze onças pintadas que aparecesse.  Lobo Pequeno não se enteressou pela expedição.  Preferiu dormitar preguicosamente  no calo aconchegante de Tuminha.

Tinho, brandindo nos ares seu estridente  grito a "la Tarzan" , anunciou a hora da partida,    Sandra arrumou a galera miúda em fila indiana.  Era hora de se embrenhar  pela Floresta Negra, escalar duas cachoeiras e finalmente alcançar o destino final - A grande Cachoeira do Japonês.

Tudo pronto.  Os biriteiros Elimar Recenciador e Duda Mão de Ferro acorreram para o bar e providenciaram guarnecer uma grande caixa de isopor com cervejas geladíssimas.   Lú e a falastrona D. Iêda acudiram a fome com dezenas de cachorro-quentes  e farofa com galhinha assada.

Tinho na frente puxava a turma numa longa fila pelos caminhos tortuosos , íngremes e perigosos, sempre margeando o Riacho Pitanga.

Os gurís assanhadíssimos observavam tudo com os olhos brilhando de curiosidade e alegria.

Ja no meio do caminho, a expedição deixa a trilha margeante ao Riacho.  Agora a única opção era caminhar pelo leito pedregosso e escorregadio do Riacho.    Alan foi designado CAPITÃO DOS GURÍS e  imediatamente , com ares de autoridade, assumiu o encargo esbravejando ordens e contra-ordens aos seus subordinados.  A Bonitinha e Breno rebelava-se aos mandos do Capitão, engarapitando-se por entre as enormes pedras limosas, no constante desafio ao perigo.  Lá atrás via-se e ouvia-se lamúrias dos "burros de carga"  Elimar e Duda, revezando-se no transporte das cervejas.  Na frente o eco dos gritos de Tinho Tarzan, voando sobre o riacho, de pedra a pedra,  pendurado em cipós nativos.   No meio da fila a fala constante de D. Iêda e os resmungos de Lú na cuidadosa preocupação por Cid e Lise.   Gogó, sem largar Dragão Negro,  impedia que este completasse seu intento de trucidar  duas onças pintadas com sua espada flamejante.  Sandra e Ana Lúcia trilhavam na intermediária e com a assessoria direta de Dr. Paul , vocalizavam leis e tratados aos altos brados exigindo normas de conduta para submeter a gurizada.  Como no Brasil leis e normas jamais foram cumpridas não é necessário dizer que a gurizada lhes tivesse prestado atenção.   O próprio Capitão Alan sentiu que a galera sob seu comando se amotinara.

No fim tudo era alvoroço.    Improvisação, alegria e de vez em vez os choramingos de Dragão Negro entre uma queda e outra.

O primeiro grande obstáculo da expedição foi vencido bravamente.  A primeira cachoeira foi escalada com sucesso absoluto. Uivos  e gritos de vitória gforam ouvidos.

Mais além  a segunda cachoeira se apresentou maior , mais bonita e mais perigosa de escalar.  O cuidado foi redobrado e com esforço chegou-se ao cimo.

Mais vinte metros  e a grande Cachoeira do Japonês  apresentou-se aos olhos extasiados dos desbravadores.   Lá estava ela, pomposa e altaneira, jogando suas águas brancas e espumadas por reentrãncias e quedas de cinquenta metros de altura.  A meta era alcançar a piscina formada por uma grande reentrãncia escavada na rocha na parte supeior da cachoeira..

A  escalada foi demorada e cuidadosa, principalmente face aos arroubos de coragem e despreendimento de Liv e Line Bonitinha, Lai, Cid, Capitão Alan e Breno

Ao alcançar a piscina natural ao cimo da cachoeira,  os miúdos viraram graúdos e os graúdos transformaram-se  em miúdos .  Houve verdadeiramente uma festa líquida, cheia de espumas,  respingos  e fantásticos gritos de alegria.

Eu, particularmente, transportei-me magicamente à minha infãncia e me enxerguei claro e límpido, o menino traquinas aos 10 anos de idade.   Naquele momento bateu no meu peito extraordinária saudade  dos velhos tempos:  Eu , Tinho, Duda, Cacai, Lucas,  Xi , Iza  e Gogó, verdadeiros Tarzans a flutuar nos sonhos e fantasias de toda criança feliz.

Paulo Lobo
12.10.1991

2 comentários:

  1. Dr. Paulo, sua narrativa ficou excelente. Nos lembramos exatamente daquele dia, aquela enorme comitiva para o Japones cheia de alegrias e contentamentos pelas conquistas de trilharmos a mata e chegarmos até a cachoeira. Só faltou relatar um fato importante. Tinho e Ricardinho cairam no riacho quando um cipo arrebentou. Foi um susto passageiro mas como sempre Dragão Negro era só alegria e como é do seu feitio até hoje queria uma repetição da aventura sem se preocupar com o perigo. Até a próxima história, sempre relembrando bons momentos.

    Elimar

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  2. Adorei tudo, devo confessar que não lembro de tal empreitada. Muito bom Tio, parabéns pelo blog escrito com muita emoção e verdade. Bjus
    Lais

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