segunda-feira, 14 de novembro de 2011

ÓPERA DA CACHOEIRA EM DÓ MAIOR

Segundo Movimento

Pai, devolva-me esta Cidade
viva, brilhante como outrora,
quero senti-la, como conta sua história,
não sonhar, quero acreditar
que ainda há luz por esses becos,
que ainda há vida por essas praças,
que ainda não morreram seus heróis
nem sucumbiram seus ideais....

Pai, devolva-me um pouco desta poesia
um pouco da pura harmonia
do canto dos velhos titães...
Quero essas ruas cheias e vivas,
quero essa gente desperta e ativa
construindo suas ilusões...
quero um amor de menina
estremecendo os corações...

Pai, devolva-me esta Cidade,
como contava meus avós...
devolva-me Pai, tenho pressa
o tempo urge e se dispersa
no caminho da devastação.
Tudo está tão velho Pai...
devolva-me um Rio límpido,
uma Cidade livre, brilhando na amplidão...

Pai, devolva-me esta Cidade,
suas cantigas nos arrebóis,
suas noites curtidas
no sossego dos lençóis...
quero tê-la Pai, inda moça
na sua eternidade infinita
quero tê-la inda bonita
no verde de seus quintais...

Pai, devolva-me esta Cidade
com sua gente orgulhosa
de singela vaidade...
Pai, quero tela de volta,
com o heroismo de sua gente
com justiça e sem revolta...
quero sentir no meu corpo
essa doida esperãnça, esse breve sopro...

Pai, devolva-me esta Cidade
ja não tão gasta, ja não tão velha,
fazei este Rio cobri-la, lavá-la,
despi-la das teias, limpa-la,
fazei revivê-la agora....
Pai, transforma sua história
livra-a da maldita escória
fazei brilhar uma nova aurora...

Pai, devolva-me uma Cidade,
de céu azul, de lua cheia
de gente alegre vivendo
não numa caricatura de aldeia...
Pai,  fazei sentir-se viva
ter dos sonhos uma certeza...
Pai, devolva-me esta Cidade logo,
retire-a da correnteza...

O Rio,  Pai,  corre, se alonga
negro e triste - testemunha muda
da dantesca destruição que alí ocorre.
Pai, de onde estás, acuda !  acuda!
a Cidade pouco a pouco morre...
Há um lamento, um sussuro sofrido
dessa gente que não se socorre.
Pai, devolva-me esta Cidade
como dantes, Heróica de verdade... 

Paulo Lobo

2 comentários:

  1. sendo musicada, virava fácil, fácil o hino oficial da cidade heróica!

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  2. Paulo Sérgio, lembrei-me, com saudades, daquelas tardes de longos papos, vários poemas e enormes sonhos... vividos à beira do Rio Paraguaçu - no Faquir. Cheguei a sentir aquela brisa fresca que misturava-se coma fumaça dos cigarros que fumávamos (escondido; é claro!) e nos dava um "ar" de adolescentes vanguardistas; lembra?! Você, Carlinhos, Pinto, Aninha, Jorginho, eu e todos os planos de um SOL PARTIDO! Seu Poema é um lamento que em mim sussurra. Beijo, querido! Carminha

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