quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Tributo à Família Lobo - Por Paulo Matos

O amigo poeta Paulo Matos, que jogou na Alcatéia, homenageia nossa Família com um belíssimo texto.
Obrigado caro Poeta.   "Nos teus olhos poeta, a clareza ingênua do lendário Dom Quixote...."

  


Caro Poeta e Irmão PAULO LOBO,





A tecnologia tem uma coisa interessante: unir pessoas que estão longe pelos kilometros, mas eternizadas nas ações do passado que nos é relembrado. Descobri  seu blog pela rapidez na internet. Confesso-te que voltei ao passado, relembrando dias idos ao lado desta linda família Lobo. Tive a honra e prazer de passar tardes maravilhosas na Biblioteca do saudoso Nelson Lobo, lendo Alexandre Dumas, Victor Hugo, Humberto de Campos, entre outros. Como aprendi perdido entre os tantos livros nesta sala de saber. Aquietava-me, descobrindo nas páginas dos livros um mundo recortado pelas letras e trazido à minha realidade pela sapiência do velho Nelson. Só não encontrava lá os livros de Jorge Amado, aquele a quem foi dada a missão de podar os sonhos integralistas do grande Lobo.

Uma saudade enorme toma conta de mim ao lembrar-me da velha cajazeira com seus frutos amarelos a despencarem nas águas correntes do  Pitanga. Foram as melhores  cajás que chupei na vida. Eram como frutos de ouro doados todos os anos pela mãe natureza. E as jaboticabas? Cortou-me o coração quando o trator derrubou o último pé para que se abrisse um grande fosso, e dali nascesse a piscina do Balneário. Aquela jaboticabeira tombada levava na sua morte um pouco dos meus sonhos. Mas sonhos são refeitos, são paridos pela imaginação fértil e pueril nas almas dos poetas. E por falar em poesia, quantas vezes li o livro Sol Partido. Confesso-te amigo: foi através dele que a poesia tomou conta do meu ser, agigantando-se pela mente, para depois escorrer livre e solta ao papel, pois no nosso tempo, no tempo da poesia em festa, fazíamos poesia até no papel almaço  das quitandas, como a de Boto aí na Pitanga.

Os olhos,  confesso-te agora, estão mareados por tantas lembranças. Lembranças de um tempo sem datas, onde era permitido ser feliz ao lado da sua linda família. Lembranças de Lucas “O PERIGOSO” o galante conquistador das cidades do Recôncavo. A fama corria longe, sempre como um Sancho, fiel escudeiro do Galante Quixote,  as vezes sobrava uma das suas conquistas para mim. Quantas noites não consolei damas inconsoláveis na Cabana do Pai Tomás, que chorosas abriam o peito apaixonadas  pelo galante cavalheiro do Passat branco.

Lembranças das histórias, ou estórias de Alemão Bulangê, seus truques, suas arruaças, suas conquistas capitaneadas pelos olhos verdes. Até hoje quando volto a Cachoeira expresso na minha saudação: Fala Alemão Bulangê! E ele me diz saudoso, você é um dos raros que me chamam assim.

Saudade da Alcatéia que tive a honra de ser campeão. Lembro-me que naquele time de feras só quem não fazia parte da família Lobo era eu, Balainho, Jairinho e Zé Augusto. Lembra-se do gol de bicicleta dele na final contra a Holanda? Só foi a única coisa boa que fez no futebol, mas tinha que ser na Alcatéia. Pena que um ano antes perdemos a final para a mesma Holanda devido a teimosia de Duda em ser escalado como goleiro. Confesso-te amigo estava em melhor fase do que ele. Mas perdemos com um tiro de meta batido por Evandro Gomes, e que o cabeçudo do Duda aceitou. Lembranças amigo, lembranças...

Lembranças de Cacai a socar os livros da biblioteca nos seus treinos de lutas marciais. Não entendia seu comportamento, mas amava ouvir os seus casos, suas histórias e seu amor pela terra. Lembro-me que o primeiro cacau que chupei foi tirado de uma pequena plantação próxima ao velho engenho,  plantada pelo mesmo.

Lembranças dos conselhos sábios de Silvinha, quando  meu ímpeto revolucionário queria mudar o mundo. Como sonhava, como queria uma sociedade justa, sem males, desavenças, decepções. Silvinha encarava-me mostrando-me nas palavras que a utopia de um mundo melhor escorria na minha fantasia por mudanças. Ganhei em junho de 1981 um poema seu, feito em minha homenagem em que expressavas assim: Nos teus olhos, a clareza ingênua do lendário Dom Quixote. Sonhava amigo, era ainda dado a sonhar por pátria, por pão, por condições melhores ao nosso povo.

As lembranças voltam e vejo Iza nos recitais de poesia, na praça Dr. Milton tocando “foi com medo de avião que segurei pela primeira vez na sua mão”. Nas noites frias de Cachoeira sua voz ganhava força adentrando as ruelas centenárias, fazendo-nos  sonhar os pueris sonhos da mocidade. Lembranças poeta, lembranças...

Lembranças de Glória, sua irmã caçula, colega de magistério. As notas eram as melhores, a aplicação sem fim. E as flanelogravuras que Bárbara (Binha) fazia para que eu pudesse passar nas aulas de Silvinha. Não tinha  tais dons e sempre encontrava na sua sobrinha o auxílio necessário para avançar nos anos vividos no Colégio Estadual da Cachoeira. O curioso é que Silvinha sempre me dizia: Conheço estas figuras, já vi alguém fazendo. Ria com os olhos verdes e sempre me dava as notas necessárias.

Paro por aqui, senão escreverei um livro só de lembranças. Mas tenha certeza caro  amigo e irmão, muito do que sou hoje, da formação intelectual obtida na  minha vida, nasceu na biblioteca do seu saudoso pai. Muito da formação moral aprendi pelos conselhos e exemplos da sua linda família, e posso orgulhar-me de ter amigos como os LOBOS, e que me adotaram como um irmão nesta alcatéia de saber e dignidade.

Com o coração saudoso pelas lembranças,



PAULO CÉSAR MATOS MACHADO

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