terça-feira, 29 de novembro de 2011

Opera de Cachoeira em Dó Maior

Terceiro Movimento

Nesta cor transparente
espelho de tuas ruas orvalhadas
persigo viver...
Nesta avenida fria
muitos e mitos sucumbiram
pelo sonho que não vingou.
Nestes bancos de pedra, nestas praças
nestes rostos lívidos, sem graça
o meu sorriso vive ainda...

Neste meu jeito tímido e silente
dormita claras esperânças
em cálidas manhãs de setembro...
Nem em raros momentos de então
se escuta o Bem-Ti-Vi,
e perderam-se na amplidão
as cores vivas do arco-íris...

Nesta fuga de meu íntimo
pelo medo de te olhar
faz-se trevas os olhos meus
e emudece a aminha voz...
O vento ja passou
e dormes ao léu tal Orfeu embriagado
esquecido da luz
que um dia alí aportou...

Paulo Lobo
 

Um comentário:

  1. Paulo Sergio,
    Incrível como você tem, ainda, o poder de me surpreender...
    A-D-O-R-E-I esse perfil mais intimista da sua poesia. Simplesmente lindo esse "Terceiro Movimento"! É fluido (mas, quase palpável); é tênue (mas, marcante); é íntimo (mas, tão público); é melancólico (e tão cheio de vida)!
    Só a lente do poeta que habita em você poderia retratar, com tanto sentimento, esta realidade que banha Cachoeira, turvada pelas águas obumbradas do Paraguaçu.
    Como você, também eu espero a volta do alarido dos pássaros e a esperança renovada que nos promete o arco-íris. Sabemos que o vento passa, mas volta!
    Não demora e esse "Orfeu" acorda de ressaca...
    beijo, querido.
    Carminha
    P.S.¹(eu e meus P.S.{rsrsrs}): Agradeço o carinho das suas palavras e, sem rasgação de seda, nossa amizade, de tantos anos, SEMPRE FOI ESPECIALÍSSIMA: amorosa e franca (lembra de como a gente discutia?!); coisa de irmão.
    P.S.²: Meus AMIGOS são para sempre! Adooooro! Você sabe o quanto sempre fui apaixonada pela obra do Vinícius de Moraes; pois é Ele quem retrata o que meus AMIGOS representam para mim:
    Amigos

    Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
    Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
    A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor,
    eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos,
    enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
    E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores,
    mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
    Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos
    e o quanto minha vida depende de suas existências ...
    A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
    Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
    Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
    Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica
    e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
    Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.
    E as vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários,
    de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
    Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
    Se todos eles morrerem, eu desabo!
    Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
    E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar.
    Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
    Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
    Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos,
    cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer....
    Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
    A gente não faz amigos, reconhece-os.

    (Vinícius de Moraes)

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